Já aceitei Jesus… E agora?
O jovem e o choque necessário da mudança de valores e hábitos após a conversão.
As programações para jovens convertidos devem seguir o mesmo padrão e modelo das programações para jovens descrentes?
Claro que é correto adotar-se estratégias de contextualização para facilitar a compreensão da mensagem do evangelho pelos jovens descrentes (e não tanto para “atraí-los”, como se lançássemos iscas).
Mas é um equívoco perpetuar as mesmas estratégias para os jovens já convertidos.
Fazendo-se isso corremos o risco de não confrontá-los com os referenciais de uma nova cultura anti-mundo e santa à qual devem adaptar-se.
Esta nova cultura evidentemente não é algum modelo específico de igreja, seja ele conservador ou moderno (estas são criações humanas).
Contudo, para ser santa e anti- mundo (pregar a separação, transformação de mente, de comportamento, de hábitos etc), não basta que os programas voltados para jovens crentes tenham uma temática cristã.
Devem, antes de mais nada, ser caracterizados por um mínimo de elementos que incomodem o jovem e deixem claro para ele que o Corpo de Cristo se opõe e está bem longe do contexto social e cultural de onde estava quando não conhecia Jesus – e quanto mais o tempo passa, mais a sociedade se distancia da contra-cultura cristã.
Que elementos seriam esses?
Alguns são fáceis de identificar numa rápida leitura da Bíblia;
Outros podem ser indicados com precisão, reforçando as indicações bíblicas, pelo próprio conhecimento que se tem hoje sobre como se dá a aprendizagem humana em suas diversas fases, como se gera comportamentos e hábitos positivos etc.
Dentre estes elementos eternos e imutáveis, e que por isso mesmo devemos preservar como responsabilidade das escolas e igrejas, está a necessidade de, nos programas de formação dos jovens, enfatizarmos a importância de parar tudo, todos os dias, para se gastar tempo sozinho, consigo próprio.
E não apenas para meditar na Palavra de Deus – o que é importantíssimo, mas também para cada um avaliar sua própria vida, seus atos, pensamentos e planos.
Esse hábito praticamente se extinguiu no decorrer das últimas três ou quatro gerações, daí a excessiva alienação da sociedade atual e as muitas fugas tentando evitar um tempo a sós consigo mesmo.
Tais fugas vão desde um simples hábito de ouvir música sem parar, até comportamentos compulsivos mais sérios, como sair todos os dias de casa, jogar videogame horas a fio, correr todas as festas e agitações da temporada, trabalhar sem parar, trocar o prazer da leitura Bíblica e do pensar pelo automatismo da memorização, e por aí vai.
Ao perceberem que esta é a marca da atual geração, escolas, igrejas e pais erram ao assumirem que a única chance de atingí-la de alguma forma é criar cada vez mais alternativas que acompanhem o ritmo alucinante ao qual o agitado jovem de hoje está dependente.
O efeito é justamente o oposto:
Reforçando o comportamento, cria-se uma relação de dependência crescente, em que o jovem não mais se confronta com outros referenciais e deixa de amadurecer.
Quando adulto, adotará algumas das convenções da idade, mas a essência do comportamento estará praticamente inalterada, de onde se explica, em parte, a origem de toda uma geração de pessoas hoje em dia com um nível assustador de alienação.
Assim, a idade não é mais fator limitante para o desejo obsessivo de se envolver com atividades agitadas, como os “Fortais” da vida (para os crentes, precisa-se fazer os devidos ajustes nos exemplos). Portanto, encerro o argumento como comecei.
É estratégico e gratificante oferecer ao jovem descrente programações contextualizadas com esse mundo em que eles vivem.
Falando a linguagem deles, facilitamos sua compreensão da mensagem, e até quebramos um pouco a imagem negativa que têm a respeito da igreja cristã, permitindo-lhes descobrir que sabemos fazer coisas tão alegres e bem-feitas quantos as deles, mas com a perspectiva correta: a de Jesus.
Aí vem o “mas”… Uma vez convertido, este jovem deve ser gradativamente confrontado com uma nova cultura, outros valores, uma realidade diferente e tão distante da que ele vivia que ele terá de rever muito de seus hábitos e comportamentos, até o ponto de não identificar-se mais com aquela estrutura que o mundo lhe oferecia.
Ninguém é “bobo” de pensar que está se propondo que as escolas e igrejas abandonem quaisquer idéias de programas festivos ou agitados. De maneira alguma, isto é importante e tem seu lugar – como divertimento, principalmente.
Mas as escolas e igrejas devem considerar a tremenda importância que o hábito de parar todo dia por um tempo para estar a sós com os próprios pensamentos (e, no caso das igrejas, incluir ainda outra parte do tempo dedicada à meditação na Palavra) é fundamental para a formação de adultos maduros, equilibrados e menos compulsivos.
Daí saem melhores pais, melhores cônjuges, melhores profissionais, melhores ministros.
Lembro-me perfeitamente de quando era adolescente e meus pais me obrigavam a certos hábitos para os quais eu não dava qualquer importância.
Da mesma forma alguns conselhos que ouvia do meu pai repetidamente, a cada dia.
Como era natural da idade, eu resistia a tudo aquilo, e nem percebia que meu cérebro registrava cada coisa silenciosamente, sem que eu imaginasse as conseqüências futuras.
Hoje, casado e com filho, surpreendo-me pensando e agindo exatamente com base naqueles hábitos e princípios que meus pais me transmitiram décadas atrás.
Às vezes até sem me dar conta, boa parte do sucesso e equilíbrio que acredito estar tendo como profissional, como marido e como pai, deve-se à insistência dos meus pais em me incutir valores e princípios corretíssimos que moldariam meu comportamento futuro, ainda que na época eu resistisse a eles e não os compreendesse.
Esse testemunho evidentemente não é só meu. O planeta está cheio de casos assim.
O conceito de “Inteligência Emocional”, por exemplo, está revirando famílias e instituições num mundo que já se habituara a pensar que estas coisas não têm valor.
Só que a Bíblia é recheada desses princípios e valores há milhares de anos – mesmo assim, muitos de nós, crentes, nunca lhes demos a consideração devida.
Falta às escolas e igrejas considerarem que em seus projetos para preparar os jovens para o hoje e o amanhã deve estar presente a obrigatoriedade de submetê-los a hábitos e atividades para as quais muitos não manifestam qualquer interesse.
Vamos manter as festas, as brincadeiras e coisas do gênero, pois são salutares. Mas não façamos delas o moto principal dos nossos esforços e objetivos.
A geração futura agradecerá… no momento certo. Resumindo: é descrente? Usemos festas, música, dança, pregação contextualizada etc.. Converteu-se? Bíblia, ensino e discipulado nele.
A Verdade deve impactar, causar um choque. Badalação e programações são boas e até devem existir… mas nunca serão muito importantes. Enviado por: Ricardo B. Marques Igreja Batista Central (Fortaleza/CE)