É desejável mudar seu interior?
Poucas pessoas podem afirmar que não vale a pena melhorar nada na sua maneira de viver e na sua experiência do mundo.
Há quem pense que os reveses e as emoções conflituais contribuem para a riqueza da vida e que é essa alquimia singular que faz delas o que são, pessoas únicas, devendo, pois, aprender a aceitar-se e a apreciar os seus defeitos tal como as suas qualidades.
Essas pessoas arriscam-se a viver numa insatisfação cronica sem se darem conta de que poderiam melhorar a troco de algum esforço e reflexão.
Imaginemos que nos propõem passarmos o dia inteiro a sentir inveja.
Qual de nós o aceitaria com prazer?
Em contrapartida, se nos convidassem a passar esse mesmo dia com o coração repleto de amor pelos outros, a maioria de nós acharia essa opção infinitamente preferível.
É bem comum o nosso espírito estar perturbado.
Somos afetados por pensamentos dolorosos, invadidos pela cólera, feridos pelas palavras duras que os outros nos dirigem.
- Nesses momentos, quem não pensaria em controlar as emoções para ser livre e senhor de si próprio?
Dispensaríamos de bom grado esses tormentos, mas, não sabendo como proceder, preferimos pensar que, afinal, é a “natureza humana”.
Ora, o que é “natural” não é necessariamente desejável.
Sabemos, por exemplo, que a doença é o destino de todos os seres, o que não nos impede de consultar um médico quando estamos doentes.
Não queremos sofrer.
Ninguém acorda de manhã pensando:
Espero sofrer todo o dia e, se possível, toda a vida!
Seja o que for que façamos – empreender uma tarefa importante, executar o trabalho habitual, iniciar uma relação duradoura ou, simplesmente, passear na floresta, beber uma chávena de chá ou ter um encontro fortuito – , esperamos sempre retirar algum benefício desses atos tanto para nós como para os outros.
Se tivéssemos a certeza de que dos nossos atos só resultaria sofrimento, não agiríamos.
Acontece-nos termos momentos de paz interior, de amor e de lucidez, mas, na maior parte do tempo, trata-se apenas de sentimentos efêmeros que depressa cedem o lugar a outro estado de espírito.
Contudo, compreendemos facilmente que se exercitássemos o espírito a cultivar esses momentos privilegiados, isso transformaria radicalmente a nossa vida.
Todos sabemos que seria desejável tornarmo-nos seres humanos melhores e transformarmo-nos a partir de dentro, tentando aliviar o sofrimento dos outros e contribuindo para o seu bem-estar.
Há quem pense que a existência é monótona na ausência de conflitos interiores.
Todos nós conhecemos os tormentos da cólera, da avidez ou da inveja.
Do mesmo modo, todos apreciamos a bondade, o contentamento e a alegria de ver os outros felizes. Evidencia-se com clareza que o sentimento de harmonia associado ao amor pelo outro possui uma qualidade própria que se basta a si próprio.
O mesmo acontece com a generosidade, a paciência e muitas outras qualidades.
Se aprendêssemos a cultivar o amor altruísta e a paz interior e se, paralelamente, o nosso egoísmo e o seu cortejo de frustrações se atenuassem, a nossa existência não perderia nada da sua riqueza; muito pelo contrário.